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Vídeos do “Kit Escola Sem Homofobia” são ótimos para o debate sobre diversidade na escola

Desde que se tornou pública a produção do material pedagógico "Kit Escola Sem Homofobia", uma divisão enérgica entre os setores fundamentalistas e progressistas se instalou no Congresso Nacional. Quem puxou esse conflito foi o deputado federal e homofóbico assumido Jair Bolsonaro (PP-RJ), que sempre disse que o Ministério da Educação (MEC) queria ensinar o "homossexualismo e pornografia" nas salas de aula.

Os ânimos em torno do material foram se acirrando e o clima ficava cada vez pior, já que o MEC se recusava a discutir o conteúdo das cartilhas e dos vídeos. Na semana passada, a bancada fundamentalista liderada por Anthony Garotinho (PRB-RJ) e Bolsonaro ameaçou o governo federal: "Ou vocês suspendem o kit gay ou nós engessamos o governo e convocamos o ministro Palocci para explicar o seu enriquecimento". Acuada, a presidente Dilma Rousseff mandou suspender os vídeos por considerá-los "inadequados ao combate a homofobia" e por fazerem "propaganda de determinada opção sexual".

Estarrecedor foi saber pela boca da presidente de que ela não tinha assistido aos vídeos e que tinha visto apenas um trecho de "Probabilidade", que trata da bissexualidade.

Produção simples versus discurso rico
De todas as polêmicas surgidas a partir dos vídeos do "Kit Escola Sem Homofobia" a única que é verdadeira é a respeito de sua produção, que realmente é bastante simples. Por outro lado, os vídeos, com cinco minutos de duração cada um, são de uma riqueza textual que fará muito bem se forem exibidos aos alunos do segundo grau, conforme plano do MEC.

O primeiro vídeo, "Probabilidade", é o melhor dos três. O vídeo, que é ilustrado com desenhos feitos em lápis de cor e que são movimentados em stop motion, tem início com a história de Leonardo, que está de mudança para outra cidade. O jovem está apreensivo, pois terá que deixar para trás uma namorada de quem ele gosta muito e os seus amigos. Leonardo também está muito ansioso em relação à nova escola onde vai estudar, mas, ao chegar ao novo colégio, é recepcionado por Mateus. Logo os dois desenvolvem uma forte amizade e descobrem uma série de coisas em comum.

Certo dia, quando os dois estão chegando à escola, são alvo de xingamentos, piadas e deboches pelos colegas que acusam Leonardo e Mateus de serem namorados. Após a confusão, Mateus conta para Leonardo que é gay. O amigo não entende por que Mateus não revelara antes a sua orientação sexual, mas ao se lembrar do vexame que passaram, ele entende e continua ao lado do amigo.

Mateus convida Leonardo para uma festa e é nesta ocasião em que o protagonista conhece um garoto e fica muito interessado por ele. É aí que ele entende que tem atração física por rapazes e garotas, o que acha legal, pois descobre que tem 50% de chances a mais de encontrar pessoas (afirmação essa que revoltou a presidente).

O segundo vídeo, "Torpedo", trata da história de duas garotas que estão ficando e tiveram suas imagens espalhadas pelo colégio após serem fotografadas em uma festa. As meninas ficam em pânico e não sabem o que fazer. Enquanto isso, os alunos fazem todo o tipo de piada e revelam o seu "nojo" pelas duas. As meninas encaram juntas o problema, e por meio de torpedos se encontram no pátio do colégio e se abraçam. Neste momento, o vídeo mostra alguns colegas espantados com a cena.

Finalmente, "Encontrando Bianca" trata da transexualidade feminina. No vídeo, Bianca conta que recebeu o nome de um jogador de futebol e revela que adora o esporte, mas que hoje prefere ficar na arquibancada. Conta também que, apesar de atualmente viver bem, não foi fácil, que os seus pais ficaram sem falar com ela e que teme não chegar ao fim dos estudos por conta do preconceito.

Não há nada que justifique falar que exista pornografia nos vídeos e muito menos "propaganda de opção sexual", pelo contrário, dentro do limite, os vídeos tratam de forma muito realista os preconceitos possíveis, principalmente "Probabilidade" e "Encontrando Bianca", que vai fundo na questão do entendimento sobre a construção da identidade de gênero.

Os vídeos também deixam clara a maneira como os jovens estudantes estão abandonados às piores formas de violência por conta de não contarem, seja no ensino público ou privado, com ações que promovam o entendimento e o conhecimento sobre a diversidade sexual. Nos vídeos, os personagens conseguem encontrar amigos e força, mas é sabido que 90% deles enfrentam a violência homofóbica.

Assista a seguir aos vídeos, em sequência.

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