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“Igreja Católica deve rever postura contra aborto e camisinha”, diz pastor em coluna de estreia

Nove é o número dos pontífices que comandaram a Igreja Católica Apostólica Romana durante o século XX. São eles: Leão XIII (1878-1903), Pio X (1903-1914), Benedito XV (1914-1921), Pio XI (1921-1939), Pio XII (1939-1958), João XXIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978), João Paulo I (24 de agosto a 28 de setembro de 1978) e João Paulo II (1978-2005), o quarto mais longo pontificado da história da Igreja Romana. Bento XVI é o primeiro papa do século XXI. De todos os citados, João Paulo II e Bento XVI foram os que mais se pronunciaram publicamente sobre a homossexualidade. Podemos certamente classificar tais declarações como homofóbicas. Não precisa ser um expert no assunto para entender o quão preconceituosas são as opiniões dos papas.

A Igreja Romana do século XXI é herdeira ideológica do longo pontificado de João Paulo II, o papa polonês. Os 27 anos de comando da "Barca de Pedro" imprimiram na hierarquia da Igreja e nos seus fiéis, um profundo desconhecimento e preconceito em relação à diversidade da sexualidade humana. O vaticanista John Cornwell escreveu a mais contundente análise do pontificado de João Paulo II ("A Face Oculta do Pontificado de João Paulo II", Ed. Imago, 2005). Sobre as opiniões do papa em matéria de sexualidade, escreveu: "Ele [João Paulo II] viu as questões – contracepção, divórcio, uniões ilícitas, homossexualidade – como uma dimensão da "cultura da morte", contra a qual ensinou e pregou com crescente veemência. Inclinava-se para traçar uma equivalência moral entre contracepção e aborto; ao mesmo tempo, expôs a noção de que pecados contra a moralidade sexual e a santidade da vida eram intrinsecamente malignos: não podia haver nenhuma circunstância atenuante…"

Durante seu pontificado, foram inúmeras vezes que ele veio a público, manifestar-se negativamente quanto à homossexualidade. Segundo o papa João Paulo II, homossexuais jamais poderiam aspirar a um relacionamento amoroso, ou ao amor familiar, porque [na opinião dele], era impossível dois homens ou duas mulheres entregarem-se mutuamente em "genuíno" amor. Homossexuais "usam" fisicamente uns aos outros, não colaboram na procriação, são intrinsecamente desordenados. Suas práticas são contrárias à "lei natural", e, por isso, não se complementam afetivamente nem sexualmente.

No Ano Jubileu [2000] grupos de defesa dos direitos LGBT organizaram uma "Parada do Orgulho" no Coliseu, em Roma. Mais de 200 mil LGBTs marcharam ali, exigindo direitos iguais para todos. Isso provocou a ira de João Paulo II e a declaração pública, no dia seguinte, diante de milhares de fiéis na Praça São Pedro, que o Ano Jubileu tinha sido "maculado e profanado", citando longamente o Catecismo da Igreja Católica, especificamente os tópicos 2357 e 2358 que trata da homossexualidade como "inclinação objetivamente desordenada" e o "chamado" à castidade que a Igreja faz aos LGBTs.

Manifestações públicas como essa, além de cartas, entrevistas, encíclicas e sermões, contribuíram para o agravamento da homofobia em todo o mundo. As consequências, nós conhecemos bem: assassinatos, suicídios, estupros, marginalizações e exclusões de toda ordem. Membros da hierarquia romana, principalmente brasileiros, durante o pontificado de João Paulo II, declararam à imprensa, diversas vezes, suas posições homofóbicas. O Cardeal Emérito do Rio, D. Eugenio Araújo Sales, escreveu nos Jornais "O Globo" e "Jornal do Brasil" contra a união civil de pessoas do mesmo sexo. Seu sucessor, D. Eusébio Scheid, chegou a declarar publicamente que era uma cachorrada comparar gays e cachorros, porque gays não são seres humanos!

Bento XVI, numa tentativa equivocada de fazer uma "ecologia do ser humano", disse recentemente aos membros da Cúria de sua Igreja: "salvar a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas do desmatamento". Já são inúmeras as declarações públicas do atual papa contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo e os apelos dirigidos aos países para que não aprovem a união civil em seus Estados.

No pontificado de João Paulo II, tentativas de trabalho pastoral com a comunidade LGBT foram sumariamente perseguidas e proibidas, como aconteceu com a News Way Ministry, fundada pelo padre Robert Nugent e pela freira Jeannine Grammick, ambos severamente punidos pela Congregação para a Doutrina da Fé, nome moderno da famigerada Inquisição, que na época era presidida pelo atual papa.

É correto e honesto dizer que o atual Catecismo da Igreja Católica, promulgado durante o pontificado de João Paulo II e que serve de diretriz em matéria de doutrina para a Igreja Católica no mundo inteiro, diz que homossexuais devem ser "acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza" e que deve ser evitado para com os LGBTs "todo sinal de discriminação injusta"; contudo, as declarações anteriores contidas no próprio documento, somadas às declarações públicas dos papas e membros da hierarquia da Igreja em relação à homossexualidade, não têm amenizado, nem contribuído, nem mesmo minimizado, ao contrário, a homofobia social. Sem falar da irrealidade do chamado à castidade que o mesmo Catecismo faz aos homossexuais! É preciso que a Igreja decida: se quer contribuir como tem contribuído para o aumento da violência, da exclusão social, da marginalização, dos assassinatos, dos suicídios, enfim, da homofobia em todo o mundo, que continuem com a ultrapassada ladainha contra os LGBTs. Agora, se quer cumprir o ideal maior de Jesus – a construção da civilização do amor – é preciso que a Igreja, desde o papa ao padre da paróquia mais próxima de nós, sejam mais fiéis e cumpridores da Lei de Cristo: a Lei do Amor. "Amar ao próximo como a si mesmo" não é declarar que o próximo é desordenado em sua sexualidade; quanto mais declarar que os LGBTs não podem amar seus iguais e que esse amor é pervertido e que não contribui para a vida. É preciso mais entendimento, mais respeito ao outro ser humano e menos condenação e hipocrisia. Mais fidelidade ao ideal de Cristo, já que é uma Igreja, e menos homofobia!

Novos Ventos
Todavia, é preciso apontar o que tem acontecido de positivo na Igreja Católica Romana em relação aos LGBTs e ao trabalho de inclusão desses na comunidade de fé. Principalmente o que tem acontecido neste âmbito no Brasil.

Recentemente, o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, o bispo Robert Zollitsch, declarou-se a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. É importante frisar que o Presidente de uma Conferência Episcopal tão importante e influente como a da Alemanha (pátria do atual papa), jamais declararia algo assim, se não tivesse a anuência e a concordância de pelo menos a maioria de seus pares. Portanto, não é uma declaração que devemos diminuir por sua tremenda importância.

Aqui no Brasil, o vice-presidente da CNBB, D. Luís Soares Vieira, declarou à imprensa, essa semana, que gays podem ser sacerdotes, desde que sejam celibatários, condição exigida igualmente aos heterossexuais que aspiram ao sacerdócio na Igreja Romana. Isso também é importante porque o documento que Roma publicou proibia terminantemente o ingresso de homossexuais masculinos nos seminários católicos e a ordenação de "pessoas com tendências homossexuais profundamente arraigadas". É a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não se enquadrando à política centralizadora da Sé de Roma.

Também é preciso apontar as iniciativas de pastorais na Igreja Católica no Brasil junto à comunidade LGBT, como o grupo "Diversidade Católica" do Rio de Janeiro [http://www.diversidadecatolica.com.br], bem como o trabalho de padres anônimos em todo o Brasil visando à inclusão LGBT na Igreja Católica. Não vej

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