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Disparatada: LGBTs, qual é o partido do seu candidato?

Esta reflexão não é contra qualquer candidatura não heterossexual a nenhum cargo público, muito pelo contrário. Também não quero criticar aqueles que têm dado pinta em suas campanhas eleitorais, nem mesmo desmotivar os eleitores/apoiadores de drags, travestis e ativistas gays, bissexuais ou lésbicas, afoitos Brasil afora em busca de votos.

"Penso que, se for o caso de sair do armário para ganhar as eleições, que se compreenda que ninguém é somente viado, trava ou sapatão, que é mais ou menos como no final das contas boa parte da população vai olhar para esses candidatos e candidatas ditos “da nossa comunidade”.

As pessoas em busca de votos, além de suas práticas e desejos afetivo-sexuais, também têm uma história de politização ou despolitização, de envolvimento ou apatia com diferentes movimentos sociais, de aproximações e parcerias políticas ou de inexperiência e ingenuidades no campo da disputa dos cargos de poder. Elas não têm só sexo, gênero e sexualidade; tem partido político, ideologia, religião, cor, classe social, formação política, práticas e discursos de diferentes ordens, interesses difusos e uma história.

Se é verdade que ser viado em si não desqualifica ninguém para qualquer cargo público, também é igualmente verdade que não qualifica. Serve o mesmo para a categoria mulher, negro, pobre, deficiente, intelectual, etc. Se fosse o contrário, o presidente negro dos EUA e a nossa primeira presidenta mulher teriam feito o que realmente necessita ser feito para os negros e as mulheres terem uma vida com mais qualidade, seja lá ou aqui.

Além disso, tem um agravante. Chegou a hora de entendermos que a nossa democracia no que diz respeito às eleições de vereadores é pautada pelo coeficiente eleitoral. Assim, a vaga na câmara dos vereadores não é decidida pelo número de votos de cada candidato em separado, mas do número de votos do partido ou da coligação. É preciso pensar, de uma vez por todas, coletivamente. Se o seu candidato for bem votado, mas o partido dele não atingir a cota de votos necessária, não vai vencer. Isto é, o projeto partidário vale mais do que as boas intenções de cada um dos seus candidatos preferidos.

Assim, antes de valorizar se o seu candidato é ou não LGBT, vá atrás de se informar para saber com quem ele está metido. Não basta confiar nele ou nela, tem que acreditar que o grupo dele é o melhor, e, pra isso, é bom conhecer o histórico dos políticos do partido em que ele está filiado e também daqueles outros partidos que compõem a sua coligação. Veja se não vai votar em bicha e eleger homofóbico! E, para isso, não basta ouvir os discursos nesse período eleitoral. É preciso ir conferir os votos já dados ou negados pelo partido nas instâncias estaduais e federais em relação às iniciativas que você julga importantes.

Não caia no discurso identitário e equivocado de que necessariamente "temos que eleger LGBTs para termos mais direitos". Ou já se esqueceram dos depoimentos preconceituosos do finado deputado Clodovil? Ou tem dificuldade de compreender que o pouco que conquistamos foi via a luta do movimento social da diversidade sexual e do trabalho de, por exemplo, muitos políticos heterossexuais?

Sabemos que todos têm o direito de disputar as eleições, e, claro, isso precisa ser garantido. Também é evidente que o gênero e a sexualidade, assim como outras diferenças, constroem nossa prática e nossa luta, marcam os nossos interesses e fortalecem parte de nossa solidariedade e noção de comunidade. Por isso, não podem ser desconsiderados. A questão valorizada aqui é de não supervalorizar essa ou aquela diferença a ponto de não enxergar o perigo lá na frente, de não perceber as implicações que envolvem o seu voto.

Alguém já se perguntou por que tantos partidos políticos que já estão no poder não se importam em ter candidatos viados assumidos em seus palanques, mas não aprovam as leis que precisamos?

Estamos em tempos difíceis, e se não abrirmos os olhos, vamos nos sentir representados quando na verdade estamos alimentando processos perversos de violência contra nós mesmos e outros grupos "minoritários". Nesse sentido, por favor LGBTs, não votem necessariamente em LGBTs. Analisem antes os partidos comprometidos com a nossa luta e os valorizem. O projeto de governo vale mais do que as boas intenções de muitas bichas candidatas.

*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de rua. Milita no Identidade – Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro mundo possível.

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