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Clube A Lôca comemora 20 anos; ícones da noite LGBT revelam histórias bafônicas

Com busca frenética por novidades, reformulações e modinhas, não é qualquer clube que comemora aniversário hoje em dia. Mas é com todo o mérito – e muita ousadia e espírito underground- que neste mês que o clube A Lôca, localizado na Frei Caneca, em São Paulo, comemora 2 décadas.

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A caverninha foi aberta por Nenê Krawitz em 1995, faz parte da história da noite gay de São Paulo e até dá origem à expressão "a louca", utilizada à revelia por quem fala algum absurdo.

"Ela surgiu numa época em que a cena GLS – como era chamada – era dividida entre os Jardins e o centrão, e ficava bem no meio, numa área degradada. Éramos o patinho feio do circuito gay. A casa cresceu, ficou pop uma época, influenciou a abertura de várias outras casas e festas similares. E hoje contina a ser o lugar underground que todos os alternativos tem como porto seguro", afirma o DJ Pomba ao A CAPA.

Reunindo artistas LGBT e descobrindo muitos deles, bem como Michael Love, Léa Bastos, Bianca Exótica, Elloanígena Onássis, o clube reuniu artistas e políticos do cenário global: Gretchen, Marta Suplicy e Eduardo Suplicy, Lady Lu, Maria Alcina e – pasmem – James franco. Abaixo, o A CAPA conversou com personalidades que fazem ou fizeram parte da noite do A Lôca. 
 

DIZIAM QUE A GRETCHEN DARIA À LUZ NA BALADA
André Pomba, DJ

"Em 1996 foi a primeira vez que fui na ALôca. Sempre diziam que eu iria curtir o clube e que no final até rolava uns anos 80. Porém, logo que entrei, a impressão foi estranha. Parecia uma caverna, o som techno bem pesado. Quando estava decidido a sair, vi um garoto com a camiseta do Nine Inch Nails. Trocamos olhares, pedi uma Tequila Lôca, cheguei nele e ficamos na noite. Depois disso, ficamos melhores amigos e frequentamos o clubinho todas as sextas e sábados.

Comecei tocar depois de perceber que existiam muitos rockeiros que frequentavam e ficavam até o fim para ouvir os hits dos anos 80 com o DJ Ednei. Daí tive a ideia de fazer uma matinê de rock em 1998, após ter conhecido um bar de rock gay em San Francisco. Começamos a Grind em 10 de maio de 1998.

Na época, os maiores hits eram de bandas como Smiths, The Cure, Depeche Mode, New Order e Madonna. Aliás, ainda entre as preferidas.

Para mim, os momentos mais marcantes ocorreram nas comemorações dos 5 anos do Grind em 2003. Trouxemos artistas como Gretchen, Maria Lacina, Rosana, Lady Lu para comemorar o sucesso e foi um impacto incrível. Principalmente porque a Gretchen estava às vesperas de ter um filho. E muitos diziam que ela iria dar à luz nA Lôca (risos)".

 

JÁ PASSEI CHEQUE NO PALCO E CHOQUEI O PÚBLICO
Elloanígena Onassis, performer

"A primeira vez que eu fui, há uns 17 anos, eu estava desmontada. Quer dizer, mais ou menos, pois era uma figura estranha. O meu nome ganhou peso quando comecei a fazer show. Eles mesmos viram, acharam que eu era esquisita e perguntaram se eu queria começar a fazer show. E comecei a fazer.

Vou de Madonna à Gretchen, de Madonna à Lacraia. A performance que mais chocou foi a do Melô do Coco. Peguei duas bananas grandes, cortei em pedaços, fiz uma meleca com chocolate em pó e coloquei em uma calcinha branca. Durante a música, os pedaços foram caindo e o povo pensou era o cheque saindo da calcinha (risos)

Já cheguei a ficar com muito hétero no espaço, era bastante assediada, apesar de ser estranha. Hoje em dia, são os gays que dominam o espaço mesmo".

HÉTEROS DESENCANADOS E COM ATITUDE SEMPRE FREQUENTARAM
Bianca Soares (a Exótica)

"Era uma vez um menino de 19 anos pobre, que pegou o trem da Grande São Paulo, desceu na Júlio Prestes e subiu a Augusta, quando ela não era tão fervida. E, na rua Frei Caneca, se deparou com uma porta de boate discreta. Entrou e viu pessoas de todas as identidades, casa cheia e com muitos héteros.

Eu era um menino moderno, puxado para o street wear e que amou a música, a decoração e o dark room (risos).

Quando comecei a me apresentar (como Bianca Exótica) fiz várias músicas brasileiras, internacionais, mas sempre antigas, claro. Também atuei como apresentadora, cobrindo a luxuosa Michael Love.

Uma noite marcante foi quando três boys queriam subir no palco para ganhar um drink e me beijar. E não é que depois da brincadeira beijei os três e os meninos até esqueceram do drink? E na época eu não havia revelado que sou uma mulher transexual. Adoro os héteros cheios de atitude. 

Gosto da Lôca porque foi um templo clubber nos anos 90 que sobrevive até hoje. E isso é muito bom".

"PRODUZI O SHOW DA GABY AMARANTOS, NA ÉPOCA DA BEYONCÉ DO PARÁ" 
Tico Malagueta, DJ e apresentador

 "Tem mais de 10 anos que fui na Lôca pela primeira vez. Na época, tava rolando a cena clubber e eu fazia parte deste movimento, inclusive fazia parte de um grupo chamado Spice Boys – que gravava um monte de músicas da Spice Girls. Mas a primeira festa foi na domingueira, a Grind, a festa do Pomba.

Logo tomei um susto com aquela caverna, mas escutei que estava tocando uma música das Spice Girls, Never Give up on the Good Times, que só fã delas conhece. Então, em 10 minutos A Lôca me ganhou. Algo que me marcou foi a primeira vez em que apresentei o show, falando no microfone com as pessoas. Tenho certeza que fui muito ruim, mas foi muito bom para mim.

E eu apresentei desde a Elloa, que tem a cara da Lôca e shows históricos, até Pepê e Neném. Outra coisa que me marcou muito foi a primeira vez que conversei com o Johhny Luxo, pois sempre fui muito fã dele desde criança e tive a oportunidade de conhecê-lo neste espaço, quando ele tocava numa quinta-feira. Foi incrível. Isso sem contar o dia em que saí correndo atrás do James Franco. E eu consegui… Mas, sinceramente, o que marcou mais foi quando produzi o show da Gaby Amarantos, que era a Beyoncé do Pará (risos)

O que acho importante é que, enquanto em outros clubes você vê um publico segmentado, na Lôca você encontra pessoas diferentes. Eu aprendi tanto com essa diversidade e talvez, antes, eu até olhasse diferente para algum gay diferente de mim. Mas hoje, depois da Lôca, eu percebi que todo mundo é diferente de mim, assim como eu não sou igual a ninguém. E a consciencia dessa diversidade foi muito importante para a minha vida".
 

"O QUE SEMPRE PERMEOU O CLUBE FOI O BOM HUMOR"
Nene Krawitz, fundador

“Como o próprio nome diz, o clube é uma casa libertária, tem a proposta de reunir o público LGBTS, onde todo mundo convive numa boa. E o que sempre permeou a Lôca é o bom humor – que é o que as pessoas querem ao sair de casa: dar risada, dançar, se divertir. 

Quando a gente lançou, foi uma transição de outra casa, a Sra. Kravitz, para o que se tornou a Lôca. O Silvio Galgão, que fez o Castelo Rá-Tim-Bum, foi o responsável pela decoração e as pessoas ficavam espantadas com as mudanças radicais. Mas aos poucos as pessoas começaram a ver que iria vingar, principalmente as mais loucas. 


Nene loiríssimo ao lado de amigos na Lôca
 
 
Já aconteceram muitas coisas absurdas. Mas acho que o que marcou muito foi a Noite Tapa na Parada, em homenagem à Maria Alice Vergueiro (e do vídeo que viralizou no Youtube). E ela apareceu na festa, subiu no palco, disse que era a vovó do underground e até ofereceu um chá para todo mundo. Essa entre muitas outras. 
 
Realmente, é muito difícil se estabelecer numa noite que muda constantemente as músicas e as tribos, mas o grande coringa da Lôca é que o clube está sempre antenado nas tendências, nas coisas que estão acontecendo. É um clube underground, mas que se adequa ao popismo, por exemplo, e não é radical. É loca, né?”. 

SERVIÇO

Nesta quarta-feira (8), A Lôca comemora os 20 anos em uma noite pra lá de especial. Haverá limousine na porta, tapete vermelho e a programação é de 12h horas. 

No line-up: André Pomba, Mauro Borges, Johnny Luxo, Leiloca Pantoja, Gabriel Rocha, Tico Malagueta, Ginger Hot, Serjô e muuuito mais. Quanto? R$30 entrada ou R$50 de consumo

O clube é localizado na Rua Frei Caneca, 916, São Paulo – SP
 

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