O diretor J C Calciano deve ser um especialista em relacionamentos na web. Este é o seu segundo filme sobre as idas e vindas de casais gays com a internet como catalisadora dos problemas.
O assunto já foi tratado em E-Cupid: Amor em Download, que por sinal, consegue ser inferior a esta comédia mais leve e menos pretensiosa. Em Is it Just Me, ele aborda de maneira divertida os desatinos de dois gays inseguros que buscam algo a mais que o sexo casual que as salas de bate papo propõem.
Com base na estrutura narrativa das comédias de erros, Is It Just Me nos apresenta a vida de Blaine (Nicholas Downs), um rapaz inseguro em relacionamentos e que não se sente inserido no mainstream gay das boates, onde os corpos musculosos são mais interessantes que o intelecto e um bom papo. Colunista de um jornal, ele retrata o cotidiano de pessoas como ele com sarcasmo, algo ao estilo Carrie Bradshaw, protagonista da série Sex and The City.
Numa dessas noitadas de procura, ele encontra Xander (David Loren), um belíssimo e musculoso rapaz, que consegue atar as duas pontas entre a beleza física e o intelecto avantajado. Assim como Blaine, Xander está à procura de algo a mais. Os dois marcam um encontro, mas Blaine logo depois descobre que estava utilizando o computador de Cameron (Adam Huss), surgindo na tela de Xander com a foto do amigo. Inseguro, vai marcar um encontro acompanhado de Cameron e daí muitas confusões vão surgir, até que os dois consigam, ou não, se reencontrar e efetivar todo o amor que dispõem.
Os encontros e desencontros do amor parecem temas que continuarão durante muito tempo a ser explorado nas ficções cinematográficas e televisivas. O paradoxo está lançado há tempos e ainda possibilita muitos enredos ficcionais. Trazendo para a realidade, por que há tanta gente sozinha em busca de um companheiro legal? Por que estas pessoas não conseguem se encontrar? A promiscuidade é uma prerrogativa dos homossexuais ou apenas um discurso estereotipado por heteros ou homossexuais frustrados? Estas perguntas não estão diretamente lançadas na história, mas são levantadas por um espectador mais atento ao tema retratado.
Graças à direção competente de J C Calciano, os “foras” que Blaine leva durante boa parte do filme são bem coreografados em cenas, os atores estão na média e os estereótipos gays surgem mais suavizados. Ao também assumir o roteiro, Calciano explora a estrutura narrativa clássica, com os protagonistas sendo acompanhados pelos elementos pícaros (o amigo Cameron) e o mentor (idoso conselheiro, o companheiro de quarto de Xander).
Indo além das falas básicas, o roteiro inclui certa dose de metalinguagem, ao explorar o mundo dos escritores, que segundo um dos personagens, são proféticos quando estão sozinhos escrevendo e patéticos quando se tornam pessoas comuns. Ao flertar com a metalinguagem, o roteiro também brinca com a arte de encenar, ao dizer que os atores mentem o tempo todo, numa alusão sofisticada, inclusive, lembrando-nos da quebra da quarta-parede proposta por Brecht, quando o filme se propõe a dizer, mesmo que velozmente e sem profundidade, “eu sou arte”.
No que tange à técnica, o diretor de elenco Mark Sikes escolheu bem os atores da comédia, todos na média e adequados para seus respectivos papeis. A direção de arte, assinada por Noah C Haewssner é competente, organizando os locais por onde circulam os personagens, assim como a edição de Cynthia Ludwig, certinha e dinâmica.
Uma boa sacada da produção é manter o tempo de duração necessário para este tipo de história, afinal, mais que os 90 minutos de Is It Just Me tornaria a experiência tediosa e desinteressante.
Nota: 07 – Disponível no portal Intercine Gay para download
*Leonardo Campos escreve quinzenalmente neste espaço sobre cinema e lançamentos em DVD. É pesquisador em cinema, literatura e cultura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor de literatura.
