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Casal gay comemora primeiro Dia dos Pais e revela detalhes da relação com filho de cinco anos

Neste domingo, 9, o casal Marcos Lemes, de 49, e Paulo Reis do Santos (foto, com óculos), de 53, comemoram o primeiro Dia dos Pais. Depois de uma luta judicial, que exigiu muita paciência e força de vontade, eles são legalmente pais de Wesley, de cinco anos.

"Ainda não sabemos o que vamos fazer, pois não combinamos nada. Talvez o Wesley traga uma lembrancinha da escola", diz Marcos, que trabalha como supervisor educacional. Pai de primeira viagem.

Morando em Campinas, interior de São Paulo, ele revela que nunca acreditou ter o dom da paternidade, até que o marido manifestou a vontade de aumentar a família. "Ele leu uma reportagem de um ator que havia adotado e veio com essa ideia. Eu embarquei".

Paulo foi fazer a adesão na Vara da Infância e, a princípio, a promotora negou o pedido da adoção em conjunto. Eles apelaram e enviaram um texto em que fala sobre o direito da criança e trouxeram depoimentos de amigos, médicos e psicólogos. Assim, houve a mudança.

Depois de preencher um cadastro nacional em que dariam as características da criança esperada, eles foram chamados para um encontro de família para falar sobre adoção tardia. "Depois de um tempo, uma psicóloga da Vara da Infância veio à nossa casa, olhou os nossos quartos, conversou conosco e me disse: 'E se já tivermos uma criança?' Levei um susto".

PAI E PAI

O casal foi ao abrigo em que estava Wesley e conversaram com o psicólogo e com a assistente social. "Foi engraçado porque ela mesma não entendia como se processava uma família sem uma mulher. Ela contou depois que teve que procurar a ajuda da psicóloga para entender a relação de pai e pai".

Na primeira visita, uma surpresa nada agradável. Wesley falou: "Eu não quero vocês", só dizia "não" e demonstrou ser absolutamente fechado. Mas eles insistiram, o levaram para um parque naquele dia e passaram a fazer visitas constantes. "A gente pegava ele na sexta à noite e levava de volta no domingo. E ele foi se adaptando".

No dia 2 de setembro de 2013, os aspirantes a pais conseguiram a guarda provisória e meses depois a guarda definitiva. "A nossa vida virou de ponta cabeça, tanto na organização material da vida quanto emocional. Adaptamos a casa, o quarto e depois tivemos que nos organizar em relação a banho, roupa, escola…".

EMOÇÃO E CUIDADOS

Há um ano na nova casa, Wesley chama os dois pais de pais e recebeu a orientação de que existem vários tipos de família. "Ele já entende que somos uma família e que nós somos o pai dele. Outro dia, ele me perguntou porque deixamos ele na instituição, mas daí explicamos a história com a linguagem dele. Ele conhece as avós, as tias, os tios, vive num universo familiar muito regular".

Sobre o preconceito, eles afirmam que pretendem educar com direito de escolha e focados no bom senso. "Levamos o Wesley a um casamento heterossexual e ele ficou super encantado. Tempos depois, levamos ao casamento de duas meninas e ele entendeu tudo. Tanto que às vezes, fala: 'Vamos na casa das noivas?'".

Outro momento curioso foi quando o filho perguntou qual era o tipo de relação de Marcos e Paulo. "Eu disse que a gente era casado e mostrei a aliança. A única observação que ele fez, foi: 'Vocês se casaram de gravata?'. E eu respondi, sim, foi de gravata (risos). A gente tem conversado com ele na perspectiva do que ele consegue entender, daquilo que é concreto e emocional".

Na escola, são os próprios alunos que avisam Wesley quando um dos pais chega. "E o mais bacana é que tanto eu quanto o Paulo eles falam que são pais. Já conversamos com a escola, recebemos o apoio necessário e estamos cientes de que, no Dia das Mães, ele vai levar o cartãozinho para a avó".

MUDANÇA NO COMPORTAMENTO E SAÚDE

Marcos revela que desde então o filho deixou de ser um garoto fechado para ser afetivo e que até melhorou as crises asma. "Ele ainda é teimoso, como toda e qualquer criança, mas é um garoto que adora abraçar, beijar, estar junto, tagarela, que adquiriu uma confiança enorme em nós dois".

O momento em que se sentiu verdadeiramente pai ocorreu no dia 27 de dezembro. Foi quando o pequeno começou a chamá-lo de pai. "A paternidade em si é uma experiência bonita, interessante e intensa. Passei a viver uma experiência que até tempos atrás eu não imaginava".

Hoje, Wesley aprende as primeiras letras e passa as férias em Paraty, Rio de Janeiro. "Eu tenho uma frase que o Paulo disse para a psicóloga: 'Se ele for para ser engenheiro, que seja o melhor engenheiro e que se for para ser manicure, que seja o melhor manicure possível. Que ele tenha liberdade e que tenha tenha o nosso afeto, proteção e cuidado. Não é fácil ser pai, exige esforço físico e emocional, mas vale a pena".

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